Concelho de Vila Real – Religiosidade e Tradição

Museu da Vila Velha, dia 1 de Julho de 2017, às 17:00 h. Mais de cem pessoas estiveram presentes, a abarrotar o auditório.

No início o Museu deu as Boas Vindas e justificou a hospitalidade reiterada e a Câmara Municipal enquadrou o apoio e o interesse no conteúdo do livro.O Arquivo de Memórias fez a apresentação do livro e justificou o seu lançamento, numa intervenção que se transcreve

AGRADECIMENTOS à Câmara Municipal, Museu da Vila Velha, Junta de Freguesia e A todos os presentes.

Como associação cultural do património cumprimos um desígnio funcional e a mostramos um orgulho coletivo.

Como desígnio não nos poderíamos alhear das diversas formas de religiosidade popular e das tradições com ela relacionadas, e não só, tão ricas como singulares, identitárias e fatalmente condenadas ao declínio, pelo menos na forma arcaica e na força simbólica que representam.

O orgulho advém-nos de Duarte Carvalho, que sendo companheiro ativo da nossa vida coletiva, nos demonstra a forma sistemática e quase obsessiva como tem coberto o facto, apresentando um rico espólio que importa divulgar, para além do interesse, da atenção e, para lá da curiosidade, o conhecimento.

O acervo apresentado fala por si e cobre, sem preocupação de exaustão e limitando a área geográfica ao concelho, uma série enorme de eventos, manifestações, representações, significados, artes e ofícios, que nos dão uma imagem abrangente do fenómeno, digo, dos fenómenos.

No entanto a função que me foi dada para além da introdução do tema foi apresentar o livro. E praticamente poderia dá-la por concluída com o que disse…

No entanto poderia acrescentar que se trata de um livro de fotografia documental, relacionada com a temática descrita e minimamente descritivo sobre cada um dos seus aspectos. É um documento que, como diz o seu autor, tenta captar algo que, com longo passado, ainda não passou… Diria eu que, pelo menos muitas, estão a passar, ou até já passaram. Pelo menos com a simbologia e a forma arcaica de religiosidade que representavam.

O exemplo acabado é a forma como o documentário começa. As Alminhas… Onde está a função dos pequenos monumentos votados ao culto das almas do Purgatório, que, nas encruzilhadas ou na berma dos caminhos, esperavam os crentes à vinda de um dia de trabalho para uma oração pelas almas e, menos vezes, para uma esmola…? E onde estão e como estão ainda? (Alminhas de pedra ou pintadas) (1º exemplar do livro) (2º exemplar do livro, não alminhas).

Idem para as Tábuas votivas. Ainda se chama hoje ao santo, mas desta forma nunca mais, o que torna este fenómeno de crença popular, promessa e reconhecimento do milagre em hora de desgraça ou doença, um património que urge preservar, com a sua simbologia e singularidade, enquanto ainda existe.

Os cruzeiros são monumentos mais figurativos que de devoção, embora também cumpram essa função, bem como a de proteção divina e de afastar os seres malévolos. Exemplos significativos. O último pode ser considerado uma simbiose de cruzeiro e alminhas em pedra.

Os frescos figurativos ou simbólicos, singelos ou realistas, de igrejas ou santuários, alguns perfeitamente abandonados, (Nª Sra. de Lurdes).

As várias e variadas festas litúrgicas, algumas no entretanto findas, como parece não ser o caso da Capela da Santa Cabeça, com a sua peculiaridade singular da cura dos males da cabeça…

A festa do ramo em Justes ainda se fará assim?, o Maio de Nogueira ainda será desta forma e o leilão do Menino Jesus será ainda feito?

Pedindo emprestada a emprestada citação de um filósofo francês, o progresso é a injustiça que cada geração comete relativamente à que a antecedeu… Isto sem qualquer tipo de nostalgia, para já não falar em identidade ou genuinidade. A Humanidade existe para progredir… o problema é se esse progresso é ou não justo… sobretudo pelo que faz com o que fica para trás…

Os tempos também já não são propensos para os Carnavais Populares. O de Bisalhães penso que já não se usa, apesar do curioso e singular significado iniciático que representava e que já não se coaduna com os tempos modernos. O de Agarez mantém-se. E o de Abambres?

A festa de S. Miguel da Pena e sua procissão, a procissão de S. Bartolomeu na Quintã, com Tuna Rural atrás do pálio, cada vez se vê menos e isto tem tanto de lamentação como de justificação.

As procissões de magníficos andores de S. Bento, ou de esplendorosos tapetes de flores de Mateus. A procissão da Imaculada Conceição com andor engalanado de notas, anjinhos e banda.

De Vila Cova vem a Procissão de S. Tiago com altar improvisado ao ar livre, porquê? E a procissão da Sra. de La Salete com os amortalhados que se preparam e sobem a ladeira até à capela.

Como poderia faltar a Santa Luzia e os seus pitos em Vila Nova e Vale da Ermida ou o S. Brás em capela emprestada com as suas ganchas, confeccionadas apenas e de propósito para esse dia…

A festa da Sra da Pena com os seus andores gigantes, com manobras hercúleas de manejamento e mobilização.

Depois a nova coqueluche das festas da cidade na atualidade, o S. João, o Sto. António com feira e o cada vez mais esquecido S. Pedro de outrora, do largo cheio de pucarinhos de olaria negra e a rua carregada de linho, mais os ofícios com eles relacionados.

Fecha o livro dois factos díspares. O covilhete e a sua novel confraria e a Visita da Sagrada Família.

Em tudo isto e em cada um dos factos visitados pela objetiva de Duarte Carvalho, brinda-nos esta com os pormenores que caracterizam a sua forma de fotografar. Peculiares, singulares, inusitados, inesperados, curiosos, são uma surpresa ou uma confirmação. A sua marca.

É de facto este livro, um documento muito importante, rico e diversificado em torno da temática proposta, que é uma das paixões e interesses maiores do fotógrafo.

Obrigado Duarte!